Uma das primeiras perguntas feitas pelo homem quando toma consciência de sua existência é a de saber de onde ele veio e para onde vai. Todas as sociedades, sejam elas ágrafas ou com escrita, com um desenvolvimento social complexo ou não, questiona-se sobre essas duas questões básicas.
A experiência da morte um dia será vivenciada por todos nós, míseros e ínfimos mortais. Nascemos para a vida e conseqüentemente a morte. Isso é fato! Toda a nossa trajetória na terra passa pela vivência e contato com a morte, são esses acidentes de percursos que faze-nos ter a certeza de estarmos diante de um dos maiores mistérios da existência.
Atrelado a morte vem o sentimento de perda, dor, sofrimento, o medo do que há por vir. Seria a morte o fim de um ciclo? Seria o início da trajetória? Seria o descanso ou repouso eterno? Certeza é ser o momento onde abandonamos a nossa matéria, entregamo-nos a decomposição, apodrecemos, passamos por um processo de metamorfose.
O momento da partida é doloroso, pois com ele vem o romper dos vínculos, um rompimento que não poderá ser mais reatado. É o adeus! Amigos, essa é dinâmica da vida, ao entramos nesse fascinante mundo aceitamos independentemente de nossa vontade as leis naturais, as quais, todos nós somos regidos e manipulados.
Nossos corpos dependentes nos primeiros anos de vida vão ganhando vitalidade; acompanhamos o processo de mudanças constantes: os primeiros passos, quedas, as primeiras articulações silábicas cuja conseqüência será a construção de frases e orações. Crescemos, assustamo-nos com as mudanças corpóreas, membros crescendo rapidamente, hormônios aflorando no nosso íntimo. Socialmente passamos a ser considerados membros da sociedade, vamos gradativamente sendo tratados como homens e mulheres e temos as primeiras responsabilidades jogadas em nossos ombros. É a fase do desabrochar!
Com ela vem a formação acadêmica, os amores, as incertezas juvenis, as paixões avassaladoras, a inconstância, a construção de laços mais sólidos com outros sujeitos que estão fora do nosso ciclo sanguíneo. É a hora do casamento, da procriação, do cuidado com a prole. Entramos na rotina, o mundo a exigir de nós, e nós a cada vez mais tentarmos responder ao que é esperado. Assim, vemos os anos passarem, os segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, desfilarem diante dos nossos olhos. O deus Cronos consumindo a nossa existência, até o fatídico dia onde encontramos a reta final. O trajeto não pode mais ser voltado, os últimos passos nos conduzem ao fim. É o tempo de abandonar o caminho, entregar-se ao acaso.
Mas nem sempre a lei natural segue esse percurso, havendo uma antecipação do esperado. O mistério temido adianta-se para o encontro inevitável. Rompemos, então, a lei natural dos filhos enterrarem seus pais, e vemos os pais enterrarem seus filhos, gerando uma dor profunda nas íntimas fissuras do coração dos genitores. Nada mais doloroso do que assistirmos a morte de um jovem, pois inevitavelmente essa idade é tida como o momento do florescer, da alegria, do construir.
Eis um dos maiores problemas do século XXI, estamos nos tornando uma sociedade composta de pessoas cada vez mais idosas, o que é louvável, mas tornamo-nos, mais do que nunca, uma sociedade cuja sua juventude tem mais cedo o encontro com a morte. Imprudência, insensatez, incertezas, descuido, não saberia quais as causas, fato é, estamos revertendo à seqüência natural do trajeto.
Só restar-me-ia fazer um convite, prefaciando Gustave Flaubert quando diz: "A morte talvez não tenha mais segredos a nos revelar que a vida". Convidaria a viver cada fragmento de momento, a doar-se nas pequenas coisas, a viver intensamente na busca constante da felicidade, pois só assim, conseguiremos no momento derradeiro obtermos a nossa recompensa, que é a de ter feito o melhor enquanto podíamos.
Nesse contexto devemos construir a nossa trajetória.
Prof. Wescley Rodrigues
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